Mulheres na escola: alguns depoimentos e curiosidades

Seguem depoimentos de uma professora e uma de uma estudante, sobre como percebem a sua realidade como mulheres no contexto da escola pública hoje:

Professora Neuza Soares: Licenciada em História e Pedagogia, com Especializações em Educação Especial/Altas Habilidades, Educação Especial/Deficiência Intelectual, Educação e Direitos Humanos e História Moderna e Contemporânea. Teve uma vasta experiência como indigenista e atualmente atua na EEFM Almirante Barroso, em Vitória.

"Ao escrever este depoimento, me vem a mente dois trechos de uma música de Chico Buarque, que aprecio e adapto à minha realidade: “Todo dia, eu faço nunca sempre igual/ Me desperto às quatro horas da manhã/ Dou  um sorriso pontual... “. Saio para enfrentar o trajeto até à escola: ônibus lotados, viagens demoradas... Mas neste espaço já começo a ouvir: 'Ei, professora! Ei, profe!', e a vida segue... Desço do ônibus junto com alguns alunos, entre risos e conversas variadas. Entramos na escola, aquele lugar, na minha época, tão especial, e, hoje, nem sempre valorizado, apenas um lugar qualquer para alguns. Mas, para mim, continua sendo o lugar que eu escolhi e onde quero estar, pois sei que todos os dias estou apta a aprender a ensinar e ensinar a aprender.
Sou mulher, sonhadora, acolhedora, mas nunca esqueço que sou apenas humana. Penso que nós, mulheres, muitas vezes somos emolduradas como fortes o tempo todo, mas isso é para nos colocar em um papel de fazer tudo, para apenas sermos reconhecidas como fortes. Pra mim, isso é hipocrisia social. Quando não fazemos tudo, somos, então, dependentes, fracas e incapazas? Muitas vezes, somos consideradas fortes, quando isso se torna conveniente nas relações sociais. Somos apenas humanas. Rimos, choramos, gritamos, contemplamos, trabalhamos, dormimos, cansamos, e isso define a grandeza de ser igual a todos os outros seres que existem neste planeta.
Atuando como voluntária em trabalhos junto aos povos indígenas pelo Brasil à fora, percebi o quanto a mulher tem um espaço decisivo frente à ardua luta pelo respeito às diversidades existentes no país.
Sou Neuza, uma apaixonada pelo trabalho que escolhi exercer. Sou professora, isso mesmo: SOU! Não  ESTOU professora! Amo a escola, desde  quando  entrei ali com 6 anos, sabendo ler e escrever, o que talvez gerou estranheza para alguns, por eu ser de uma família humilde, ser negra e filha de mãe analfabeta (mas que gerou muita alegria para muitos). Fui acolhida pela D. Irene, uma simplicidade de pessoa, que me ensinou que ainda havia muito a aprender, e que o afeto era o melhor caminho para o desafio da arte de viver. Sempre que a encontrava, me sentia motivada a prosseguir, a caminhar.
Amar o que eu faço, não significa deixar de lutar por meus direitos de ser reconhecida, de todas as formas que mereço, junto com meus colegas de profissão. Sempre falo para meus alunos que o saber não compartilhado nada significa. Precisamos acreditar que ações individuais e umbilicais não irão melhorar o nosso país, o nosso mundo. Isso norteia o meu trabalho todos os dias como mulher e professora".
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Estudante Manuela Nali Nodolo, 14 anos, 9o. ano do Ensino Fundamental, da EEEF Domingos Perim, Município de Venda Nova do Imigrante

Ser mulher sempre foi algo difícil em qualquer ambiente, seja ele familiar, escolar, profissional ou religioso. Nós, mulheres, temos muitas responsabilidades e, muitas vezes, somos tratadas como incapazes ou como um objeto de desejo que pode ser descartado após o uso. Geralmente, isso começa dentro do ambiente familiar, em que meninos e meninas são educados com responsabilidades e valores diferentes. 

Ser mulher na escola é algo ainda mais desafiador, principalmente para nós alunas. É comum vivermos alguns momentos de insegurança porque nosso corpo, opiniões, argumentos e personalidade estão em formação. E, de fato, essa fase de transição da adolescência para a vida adulta muitas vezes nos assusta. Porém, sempre fui muito bem respeitada, tive o apoio da equipe escolar para manifestar as minhas opiniões e pude exercer o meu protagonismo. Sendo assim, tenho muito orgulho de poder conviver em um ambiente tão acolhedor, onde não sou tratada sem nenhuma diferença motivada por gênero. Isso é o que nos dá esperança: a forma com que somos tratadas, a educação, o respeito, a admiração e o cuidado que recebemos de cada um.

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Você sabia que...

O dia do professor, comemorado em 15 de outubro, foi criado por uma mulher?

Antonieta de Barros, uma parlamentar catarienese, negra e pioneira, foi quem institui esse dia.

Nasceu em 11 de julho de 1901, em Florianópolis/SC. De família muito pobre, ainda criança ficou órfã de pai e foi criada pela mãe que era lavadeira.

Alfabetizada aos 5 anos, concluiu os estudos primários e, aos 17 anos, ingressou na Escola Normal Catarinense - atual Instituto Estadual de Educação, onde realizou curso equivalente ao Ensino Médio e diplomou-se em 1921. 

Fundou o Curso Particular Antonieta de Barros, em 1922, e o dirigiu até o ano de sua morte (1952), destinado à alfabetização da  população carente. 

Desde o início conviveu com diversos desafios e preconceitos por sua cor, classe social e por ser mulher.

Seu objetivo de ser professora foi alcançado, sendo considerada uma das melhores educadoras do seu tempo, especialmente na educação de jovens catarinenses. Venceu preconceitos, mudou seu destino e tornou-se ainda escritora, jornalista e representante política reconhecida.

Destacou-se pela dedicação aos estudos; pela coragem de expressar suas ideias em uma época que as mulheres não tinham liberdade de expressão; por ter conquistado um espaço na imprensa e, por meio dele, opinar sobre as mais diversas questões; e principalmente por ter lutado pelos menos favorecidos e pela educação.